KELLY PATRÍCIA CARNEIRO DA COSTA – Crianças e adultos da barra de São Lourenço (Corumbá-MS) e suas práticas educativas
RESUMO
A Barra do São Lourenço é uma comunidade composta por 14 famílias, com um total de 104 moradores que vivem a mais de 20 anos no local; o fato de essas famílias residirem a muito tempo na região, nos mostram indivíduos totalmente adaptados ao meio, e ainda pode-se observar grande apego ao lugar. A economia do local também está relacionada profundamente com a natureza e está baseada principalmente na pesca e na coleta de iscas A renda dos ribeirinhos é baixa; ainda assim, grande parte dos entrevistados afirmou que prefere viver no local e não na cidade, e um dos principais motivos destacados, foi a questão do trabalho. Quanto à religião, as pessoas quando perguntadas, geralmente declaram alguma religião, mas na prática o que existe é um sincretismo religioso. Mesmo que a maioria dos moradores tenha se declarado como católico ou evangélico, é muito comum observar atividades religiosas relacionadas com rituais indígenas, tais como “rezas”. Para entender o cotidiano dessa comunidade, fez-se interessante a realização desse trabalho de pesquisa, que objetivou compreender as diferentes formas de transmissão e manutenção do conhecimento tradicional e da cultura local; tendo como cenário a comunidade da Barra do São Lourenço – Corumbá, MS; conhecer os aspectos sociais, econômicos e culturais da comunidade da Barra do São Lourenço; observar e descrever o modo de vida nessa comunidade, assim como seu cotidiano e sua história; entender as formas de se educar as crianças presentes no contexto dessa comunidade. A metodologia utilizada nesse trabalho foi a etnografia, já que foi meu interesse fazer uma descrição bastante detalhada do modo de vida da comunidade à ser pesquisada, no caso a comunidade da Barra do São Lourenço. A etnografia tem por característica ser usada como estudo de culturas, inclusive por ter sua origem na antropologia. Mas, a etnografia vem sendo usada em estudos de educação. Foi ainda necessário nesse trabalho entender a pesquisa etnográfica com crianças, já que nesse trabalho crianças foram observadas nas mais diversas atividades cotidianas da comunidade, buscando captar e entender os processos educativos presentes nesse contexto social seja ele: formal ou informal. Para entendermos a cultura de comunidades específicas foi de fundamental importância entender alguns conceitos antes, como: o que são comunidades tradicionais? O que é cultura? O que é uma cultura específica? E o que é educação informal? Podemos dizer que o que determina que uma cultura seja considerada tradicional são critérios como: modo de vida; modo de organização social, política e econômica; ou seja, a forma como tal sociedade trata os bens naturais, bens materiais, como organiza suas lideranças, como repassam seus conhecimentos, dentre outras características. No que se refere à escola pode-se afirmar que o direito à educação está sendo atendido de forma precária, com a existência de uma escola que funciona em regime multisseriado, há sete anos. É importante ressaltar que essa educação está longe de ser a ideal, mas pode ser considerada como um avanço. Além disso, a escola não surgiu ao acaso, ela é fruto da organização em torno do direto à educação para todos e a comunidade local reconhece a sua importância e tem lutado para a sua manutenção e melhoria. Mas, por outro lado, pode-se questionar como essa escola funciona, se respeita ou não os conhecimentos das crianças ribeirinhas. E foi possível perceber que a escola ainda se apresenta muito distante da realidade das crianças, e aproveita muito pouco os conhecimentos tradicionais, na escola, no sentido de tornar mais atrativos os conteúdos formais. Quanto ao processo de educação informal, foi possível dizer que o processo educativo, se dá de forma espontânea, no dia-a-dia e também através da brincadeira.
Palavras- Chave: Cultura Tradicional, Educação Formal, Educação Informal