TAMMI FLÁVIE PERES BORGES – “Todo mundo tá feliz?” As percepções das crianças sobre a educação infantil nas pesquisas científicas brasileiras
Este trabalho, vinculado à linha de pesquisa Políticas, Práticas Institucionais e Exclusão/Inclusão Social, apresenta os resultados de uma investigação acerca das percepções das crianças sobre a instituição de Educação Infantil (EI). Estudos recentes, advindos de diversas áreas do conhecimento, com destaque para aqueles orientados pela Sociologia da (SI) têm gradualmente reforçado e complementado a concepção da criança como ser competente, ativo, crítico e comunicativo, consequentemente capaz de se posicionar a respeito das situações e relações que mais diretamente a afetam. Desse modo, com base nos pressupostos teóricos que ancoram esta abordagem, buscou-se conhecer as opiniões das crianças, sobre EI, trazidas nas pesquisas científicas brasileiras, estabelecendo os seguintes objetivos específicos: verificar a dimensão quantitativa dos trabalhos que ouviram crianças sobre EI produzidos entre os anos de 2003 a 2012 e disponibilizados no Portal da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (CAPES); apreender as percepções das crianças de diferentes contextos do país, referentes às instituições de EI, trazidas nesses trabalhos (aspectos positivos e aspectos negativos); identificar quais são os elementos importantes e necessários da EI para as crianças, em termos pedagógicos e de infraestrutura (reivindicações), apontados nos textos. Para a realização da pesquisa, orientada por uma abordagem qualitativa, fez-se um levantamento, do tipo “Estado do conhecimento”, de teses e dissertações produzidas em programas de pós-graduação em Educação, produzidas no período entre os anos de 2003 e 2012 e disponibilizadas no Portal da CAPES, que ouviram as considerações das crianças sobre a EI. Foram localizados vinte e três trabalhos sobre a temática e, a partir da análise das opções metodológicas, identificou-se que: as pesquisas abrangeram variados contextos; as crianças na idade pré-escolar foram privilegiadas nas escutas; os pesquisadores adotaram vários instrumentos e procedimentos metodológicos para captar as perspectivas das crianças, valendo-se do conhecimento das múltiplas formas de expressão infantis. A sistematização dos dados evidenciou que as crianças apontaram, em todos os textos, aspectos que consideravam positivos e negativos sobre a EI, no entanto suas reivindicações foram contempladas em dezesseis trabalhos. Embora todas as pesquisas aspirassem olhar para a qualidade nas instituições de EI, certos pontos centrais foram determinados para conduzir algumas das investigações: espaços, tempo/rotina, relações/interações e o brincar. Assim, as crianças revelaram as suas perspectivas com base nos recortes propostos pelos pesquisadores, e, por esse motivo, algumas questões foram contempladas em maior dimensão do que outras. As crianças anunciam que gostam da EI e das diversas possibilidades que esse contexto lhes oferece: brincar, aprender, conviver com diferentes pares e adultos, comer, entre muitas outras. Todavia, elas também denunciam que essa vivência é atravancada por práticas pedagógicas que não levam em conta as suas reais necessidades e desejos. Portanto, constatou-se que, nas suas reivindicações para a EI, elas desejam, somente, poder vivenciar com qualidade tudo o que já têm garantido por direito e que está prescrito nos documentos que regem a EI. Ou seja: é necessário que as prescrições saiam do papel e que se lhes faça, cotidianamente, uma visita.
Palavras-chave: Crianças. Educação Infantil. Sociologia da Infância. Estado do conhecimento.